Nunca saberemos se o Avô José Jerónimo foi um agricultor-médico ou um médico-agricultor, mas sabemos que dedicou a estas duas vidas toda a sua vida.

Passou uma grande parte da juventude em Lisboa entre o Colégio dos Jesuítas de Campolide e a Faculdade de Medicina ao Campo de Sant´Ana. Pelos anos que dedicou ao estudo da medicina percebemos que vagueou pela capital mais do que o tempo regulamentar para a obtenção da licenciatura em medicina razão pela qual há, na Amareleja, quem afirme que José Jerónimo foi um «Vasquinho da Anatomia», algo idêntico ao herói do filme português A Canção de Lisboa.

Certo é que regressou à Amareleja como médico, para trabalhar como médico, e com a preocupação social despertada pelo estudo da medicina fez da sala de estar desta casa um consultório médico e de muitas das suas dependências áreas de internamento. Tratou portugueses e espanhóis, malteses e ciganos, lavradores e assalariados e recebeu como pagamento a simpatia do povo e alguns pratos de barro que colecionava com gosto. Disponível de dia e de noite correu a Amareleja e os Montes para fazer centenas de partos trazendo ao mundo muitos amarelejences entre eles a grande actriz Eunice Muñoz.

Elegante e culto, preocupado com a medicina e com a agricultura não dava muita atenção às alterações tecnológicas da mobilidade e resistiu até muito tarde à vulgarização do automóvel preferindo o coche puxado por cavalos o que lhe valeu algumas piadas entre os Amarelejences.

Enquanto todos os outros familiares escolhiam a elegância social dos Estoris para veraneio o Avô José Jerónimo preferia a autenticidade saloia da Ericeira onde valorizava, entre outras coisas, o facto de estar sempre frio mesmo durante o verão.